fonte: lista da compós
Derrick deKerckhove é Professor do Departamento de Letras da  Universidade de   Toronto(Canadá) e Diretor do McLuhan Program in Culture  and  Technology/Universidade de Toronto. Trabalhou por mais de dez anos diretamente  com Marshall McLuhan, como, co-autor, tradutor e assistente. É considerado um  dos principais herdeiros intelectuais de McLuhan, tendo avançado suas pesquisas  sobre mídias em torno das novas tecnologias de  comunicação. Na Universidade de  Toronto, leciona há anos a disciplina "Media, Mind and Society" (Mídia, Mente e  Sociedade), onde discute os impactos e efeitos das novas tecnologias de  informação nas práticas comunicacionais, cognitivas e culturais contemporâenas.  É autor de inúmeros livros, dentre os quais "Brainframes: Technology, Mind and   Business"(Bosch&Keuning, 1991), "The Skin of  Culture"(Somerville Press,  1995), "Connected Intelligence" (Somerville, 1997), "The Architecture of  Intelligence"(2000), dentre outros.
Entrevista com Derrick deKerckhove,  feita por Vinícius Andrade Pereira, professor do PPGC-UERJ e da ESPM, para O  Globo. 21/08/2008
- Vamos começar considerando o impacto das novas  tecnologias nos modos como os jovens estão consumindo entretenimento midiático…  O que o Sr destacaria neste contexto?
O telefone celular está distribuído  mundialmente exceto, talvez, para jovens de regiões extremamente pobres. SMS  (Short Message Service) é barato e tem uma linguagem e, mesmo cultura de fundo,  desenvolvida do estilo telegráfico de se digitar mensagens com o polegar. Textos  que podem até ser mais elaborados, mas ainda assim curtos, permitidos por  equipamentos mais sofisticados. 
Há também os games, os jogos eletrônicos.  Há muitos deles, formando a maior indústria de entretenimento atualmente — maior  mesmo que a própria indústria cinematográfica — que deve ser interativa, porque  o entretenimento na sua maior expressão é em tempo real. Isso significa que a  indústria do entrentenimento hoje, sob a égide das novas tecnologias, deve ser  participativa, interativa, conectada e imediata. Formas de entretenimento com  conteúdos tradicionais como filmes, séries de tv e mesmo livros continuam a ser  consumidas, mas, a ação real se dá para os jovens dentro de uma perspectiva do  “onde estou”, não em alguma ficção. Nesse sentido, talvez “consumo” não seja a  palavra exata. E mais, existem ainda as mídias sociais, tipo Facebook, Orkut e  MySpace, e mesmo os metaversos(Second Life, por exemplo) que promovem novos  “playgrounds” para os jovens. De uma maneira geral as pessoas parecem não  desfrutar de softwares
sociais para interconexões  como a garotada, que está  no auge dessa onda.
- Como as novas tecnologias estão mudando as  maneiras das pessoas se informarem hoje em dia?
Cada um de nós ocupa o centro  de uma esfera midiática eletrônica que nos apresenta todo tipo de informação,  todo tempo em qualquer lugar. McLuhan propôs que o meio é a mensagem, o usuário  é o conteúdo. Isso é verdade: nós estamos no centro de uma completa imersão nas  mídias e nos ambientes de informação. As pessoas estão criando suas próprias  redes de informação, das mais imediatas(família e amigos), às globais, através  de blogs, comunidades virtuais e de softwares sociais. Podemos dizer que as  pessoas criam suas próprias informações coletivamente em sites como a Wikipedia,  por exemplo. Criam tais informações de modo individual e coletivamente através  de sites de tagging social como o del.icio.us ou o Flickr, por exemplo. O  conteúdo, o formato e a distribuição da informação mudaram também. As  informações são mutimídia, hipertextuais, etiquetadas(tagged), linkadas e  interativas.
- Compreendendo toda essa reflexão dentro do que podemos  chamar de ecologia da informação, o que devemos considerar quando focamos as  universidades dentro do contexto da cultura digital?
Várias reformas  deveriam ser empreendidas a fim de permitir às universidades se beneficiarem das  redes sociais digitais, adaptando seus currículos e métodos de ensino, do mesmo  modo que seus métodos de avaliação, pesquisa e publicação. Mas as universidades  não estão com pressa em se integrarem plenamente às novas mídias. Sim, é verdade  que existem práticas tais como conteúdos de disciplinas que são dispostos da  forma de podcasting, e especulações em torno da Wikiversity, mas os estudantes  ainda têm que esperar o fim do lento processo de publicação das suas teses antes  que possam postular a um espaço profissional mais expressivo, dentro dos meios  acadêmicos. Parece injusto manter jovens doutores estudiosos privados de uma  publicação on-line e, desse modo, reduzir as chances de conquistarem mais  espaços de atuação, até que seus trabalhos sejam publicados no ritmo de lesma,  típico da publicação em papel.
- O Sr. tem viajado por todo o mundo,  dando aulas e palestras em diferentes países como os EUA, a Itália, o Brasil, o  Japão, dentre outros. O que o Sr. destacaria como importante considerando os  diferentes modos como as novas tecnologias estão impactando essas  culturas?
Penso que o que é importante para todas as sociedades e também  para todas as comunidades locais é o acesso e a garantia de liberdades civis. O  fornecimento de comunicação deveria ser uma das responsabilidades principais do  Estado, tanto quanto transporte, saúde, segurança e outros serviços básicos.  Contudo, observamos interesses variados quanto à adoção de tecnologias de  informação e de comunicação por diferentes países. Testemunhamos, por exemplo,  por muito tempo — e em vão — a resistência da França contra a Internet para  proteger o Minitel. E então, no começo dos anos 90, sua rápida recuperação no  que diz respeito às taxas de adoção da Internet. Ou o caso da Itália, onde o  acesso à Internet ainda está em um baixo patamar, de 31% da população, quando  comparado aos 78% na Inglaterra. A conseqüência de qualquer retardo na adoção  dessas tecnologias é a promessa de um crescimento econômico menor e mais lento.  E
isso se dá porque a capacidade intelectual de um país não está sendo  alimentada. É tão contraproducente para um Estado frear ou resistir através das  suas leis formas de conectar comunidades, quanto concentrar todas as energias da  nação em uma única indústria como a do petróleo. Você precisa de ambos, músculos  e cérebro, para por em movimento um país.
- O que o Sr. diria aos  pais que estão educando seus filhos hoje? Quais seriam os limites e os direitos  de crianças que estão lidando todo o tempo com diferentes tipos de  mídias?
Este é o maior desafio da educação. Mas é difícil encontrar  professores que irão educar seus alunos para um uso crítico da web. As mídias  estão mudando tão rapidamente que as habilidades requeridas para lidar com elas  parecem, desde os primeiros dias da web, reservadas às gerações mais novas. O  que se pode ver, por exemplo, na idade de Marc Andressen, 19 anos, quando  desenvolveu o primeiro browser, o MOSAIC. O único modo dos pais intervirem  eficientemente junto às “crianças on-line” é partilhar a experiência com elas de  vez em quando, mostrando através de exemplos, usos adequados das mídias e se  distanciando um pouco para ver como as coisas vão... dando uma passo atrás para  poder ver o quadro como um todo. Como direitos das crianças, acho que são os  mesmo que os dos adultos. Quero dizer, você não invade a privacidade delas mais  do que como você faz com um vizinho...(rs) O mundo on-line é uma extensão e não  uma
contradição ao mundo físico. Mas, como em todas as coisas, há uma  aceleração e multiplicação violenta dos efeitos de qualquer meio e, no caso  específico da Internet, as possibilidades de se escolher direções erradas estão  multiplicadas.
- O que o Sr pensa do papel que teriam, no Brasil, formas  de governo eletrônico e móvel como, por exemplo, o uso de celulares para acesso  a serviços básicos de cidadania, ou mesmo para votação?...
Eu não conheço  a cena política brasileira o suficiente para falar com propriedade sobre isso...  Mas, posso afirmar com certeza que, se o Brasil quer alavancar sua economia e  assegurar o seu papel como interlocutor no primeiro mundo, como está começando a  acontecer, o governo brasileiro deveria considerar a possibilidade de conectar  todo o país, começando com grandes concentrações da população como, por exemplo,  provendo conectividade de graça para algumas favelas escolhidas sob certas  condições, a fim de encorajar o desenvolvimento e a maturação destas  comunidades.
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O Professor Derrick  deKerckhove irá falar nesta segunda-feira, dia 25/08, às 10hs, no Programa de  Pós Graduação em Comunicação da UERJ.
Endereço do PPGC/UERJ: Rua São  Francisco Xavier, 524 – Maracanã, 10.º andar.
Mais informações (21) 2558  7829
Entrada Franca.
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