segunda-feira, 19 de maio de 2008

As linguagens do conflito - 40 anos do movimento de 68

As linguagens do conflito - 40 anos do movimento de 68

Encontro propõe uma releitura e analisa os reflexos do Movimento no Brasil e
na Europa contemporâneos

Dia: 27 de maio - 19h Academia Brasileira de Letras Av. Presidente Wilson,
203, Rio de Janeiro, Centro. Mais informações: ABL - assessoria cultural:
(021) 39742543 ABL - assessoria imprensa (21) 3974 2552 Instituto Italiano
de Cultura/ RJ: (21) 35344334 UFRJ: Andrea Lombardi: (21) 82086138
lombardi.andrea@gmail.com

Entrada franca – vagas limitadas

No próximo dia 27 de maio, terça-feira, um encontro na Academia Brasileira
de Letras vai reunir o filósofo italiano Gianni Vattimo, o professor de
Literatura da UFRJ, Andrea Lombardi, além do pesquisador e professor de
Comunicação da USP, Massimo Di Felice e de Yakuy Tupinambá, militante do
Movimento Indígena Tupinambá. O encontro vai ter a coordenação do Presidente
da Academia Brasileira de Letras, Dr. Cícero Sandroni. O evento vai debater
os 40 anos do movimento de 1968, com o título "As linguagens do conflito"

Para os organizadores de, As linguagens do conflito “o que está em debate,
após 40anos, não é a validade do conjunto do movimento de 68, a direção e os
efeitos que ele teve – aspectos esses, em relação aos quais as opiniões
podem naturalmente divergir”.

Importante hoje é verificar uma das características que o tornaram
tão relevante na época: trata-se essencialmente de seu caráter de movimento,
em que se juntavam diferentes contribuições da tradição (do situacionismo de
Guy Débord, ao protesto beatnik, da rebelião contra o autoritarismo típico
de uma revolta das novas gerações, ao protesto engajado em favor da paz e
contra a guerra, particularmente à época, contra a guerra do Vietnam): a
afirmação de uma cultura do conflito (entendida então como fato material e
metafórico), que conseguiu uma mobilização generalizada das novas gerações,
numa medida até então inimaginável e não prevista.”

Em 68, os participantes do movimento defendiam novos sujeitos de uma
nova geração (os mais jovens, as novas gerações). Hoje há novos sujeitos
sociais e étnicos, como os representantes dos povos nativos, que defendem
uma transformação. Acreditam os organizadores que cada movimento que defende
transformações abre para novos espaços de debate.

As linguagens do conflito. 40 anos do movimento de 68 é uma
realização do Instituto Italiano de Cultura, do Rio de Janeiro (IIC), em
colaboração com a Academia Brasileira de Letras (ABL) e a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os convidados

Entre os participantes, o mais conhecido internacionalmente é Gianni
Vattimo, um dos filósofos europeus que mais se destacam na atualidade,
particularmente no debate sobre o tema do pós-moderno, e que desempenhou
também um papel crítico e institucional ao exercer a função de deputado no
Parlamento Europeu. Especialista em hermenêutica e defensor do pensamento
pós-nietzscheano e pós-estruturalista, Vattimo é professor de filosofia da
Universidade de Turim, onde se graduou e estudou com Hans-Georg Gadamer e
Luigi Pareyson. Foi professor visitante das universidades americanas de
Yale, Los Angeles, New York University, State University of New York.
Recebeu o título de laurea honoris causa em diversas Instituições Acadêmicas
de vários continentes. É membro de comitês científicos de várias revistas
italianas e internacionais, editor da "Rivista di estetica", e membro da
Academia de Ciências de Turim. Atualmente é vice-presidente da Academía de
la Latinidade.

Andrea Lombardi

Docente de Literatura italiana na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e da Pós-Graduação da Universidade de São Paulo (USP), ocupa-se do
tema do exílio, da nostalgia e das migrações, no seu reflexo na literatura.
Ensaísta e articulista, defende uma luta para uma nova forma de leitura, uma
ética da leitura Preso em maio de 1968, foi líder estudantil na Itália
(Roma) e na Alemanha (Marburg an der Lahn).

Massimo Di Felice

Sociólogo pela Universita degli Studi de Roma “La Sapienza”, especialista em
Teoria e Analisi Qualitativa nella Ricerca Sociale pela Universita degli
Studi La Sapienza e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de
São Paulo. É Professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo, (ECA-USP), pesquisador e teórico sobre as novas mídias. Coordena
o grupo de pesquisa Cepop Atopos - Centro de Pesquisa da Opinião Pública na
Época Digital - que, entre outras atividades, organizou e realizou as duas
edições do Seminário Mídias Nativas, com a participação de videomakers e
produtores culturais indígenas da periferia (
<http://www.eca.usp.br/atopos/midiasnativas>
http://www.eca.usp.br/atopos/midiasnativas ). É autor de diversos livros.
Atualmente pesquisa as novas formas do habitar.

Yakuy Tupinambá

Militante do Movimento Indígena Tupinambá e membro da liderança do cacicado
da aldeia Tupinambá de Olivença (Ilhéus/Bahia). Autora de vários textos,
publicados, entre outros, nas coletâneas Índios na visão dos índios, na rede
indiosonline ( <http://www.indiosonline.org.br/>
http://www.indiosonline.org.br/) e em Indiografie (Costa & Nolan/Itália).
Técnica em economia doméstica, é atualmente estudante de Direito na
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Yakuy é uma defensora de um pensamento
indígeno, que tem despertado grande interesse para a tradição ocidental (de
que, paradoxalmente, representa a extrema continuidade ocidental).






Um debate com muitas perspectivas

Para os organizadores, teremos que aproveitar os novos espaços de debate,
pois um novo caminho pode emergir do Profundo Ocidente. Ou seja, uma nova
postura ética e uma visão de mundo alternativa podem ser escutadas nas falas
dos povos nativos, algo mais perto de nós e algo mais denso e intrigante do
que nos vem do Oriente, que às vezes lemos em manuais de auto-ajuda ou de
filosofias baratas. Talvez, hoje, mais do que provocar um movimento, teremos
que afinar e melhorar nossa escuta. Escuta do que há de novo nessa
sociedade. Pois há muito de velho nessa nossa sociedade do Novo Mundo, mas
há algo de novo também.

Substancialmente, 1968 pode ser lembrado como um período de grande
movimento, que afirmou a cultura da diversidade e do conflito. E hoje, na
barbárie de um mundo intercomunicante, mas à procura das próprias raízes e
de novos significados, o conflito pode ser ainda um objetivo capaz de afinar
nossa leitura do mundo. Se então se dizia que a transformação do mundo era
essencial, hoje podemos afirmar que sabemos que isto não é tão fácil como
parecia, mas reler o mundo pode significar, como projeto mínimo e máximo, a
releitura de nós mesmos, e, portanto, uma transformação.

Alguns pontos a serem pensados e discutidos no debate

1. Há duas visões (a européia e a “americana-brasileira” que dialogam
nesse debate, ou melhor: três perspectivas, incluindo a dos índios (os povos
nativos): uma visão do profundo Ocidente. Uma visão multilateral,
multiétnica, a perda da centralidade.

2. A apropriação da tecnologia digital por indivíduos e coletivos da
periferia e pelos povos nativos (por exemplo, através da Indiosonline, uma
rede da internet criada por uma ONG alternativa, a Thydewa
http://www.indiosonline.org.br/ ); os estudod e a congregação dessas
experiências em eventos organizados pelo Cepop/Atopos, grupo de pesquisa da
ECA-USP http://www.grupoatopos.blogspot.com/ ; a atuação de ONGs européias
como a Zoe-Onlus http://www.zoeonlus.it/attivita_n.htm , que vem dando voz
aos representantes dos povos nativos, amplificando-a na Europa através de
livros como o Indiografie, lançado na Itália em 2007.

3. Se o movimento de 68 defendia uma nova postura, hoje o mundo
necessita de uma nova ética. Os índios estão na internet e realizam vídeos:
uma nova era já começou.

4. O movimento de 68 afirmava a necessidade de uma transformação do
mundo. Hoje sabemos que transformar o mundo é difícil ou – talvez – nem é
algo tão positivo! Talvez agora teremos que ler o mundo de forma diferente.
No mínimo, nosso objetivo pode se tornar uma transformação da leitura do
mundo e, portanto uma transformação de nós mesmos. O mínimo e ... o máximo
também: eles coincidem.
5. Não existe mais uma única verdade (desde o filósofo Nietzsche,
incluindo a leitura do próprio filósofo italiano Gianni Vattimo). Mas pode
haver hoje a percepção de um caminho diferente. Caminho em grego tem
vínculos etimológicos com a palavra metodein, ou seja: o que precisamos é um
método diferente.

6. Como teremos três representantes italianos no debate, é importante
considerar que a tradição da cultura italiana, que vai muito além da
unificação recente do século XIX, lida desde sempre com a diversidade, o
multilingüísmo e o multiculturalismo, como na cultura brasileira, e vê com
muita simpatia a emergência de novos sujeitos sociais. Desde a Idade Média e
a Renascença convivem na península italiana (bem antes da Unificação) povos
e etnias e línguas diferentes (15 línguas, 24 famílias de dialetos). Esta
tradição do debate, que valoriza o conflito como parte indispensável da
prática democrática, é algo bem arraigado na tradição italiana, aberta desde
sempre a espaços de debate e idéias novas. Eventos recentes, que parecem
contradizer essa tradição, devem ser entendidos como entraves temporários,
que o tempo se encarregará de superar.

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